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O saber não ocupa lugar. A ignorância também não, mas dá má fama.

Cabo Mondego - Monumento Natural

quarta-feira, janeiro 28, 2015

Como sou da Figueira da Foz, não podia deixar de escrever primeiramente, um pouco sobre o Cabo Mondego, que representa a nível mundial (sim, leram bem) uma das melhores passagens dos andares do Jurássico médio e superior – o mesmo período geológico retratado em Parque Jurássico. O Cabo Mondego situa-se na parte oeste da Serra da Boa Viagem, a cerca de 6 km a noroeste da cidade da Figueira da Foz e é considerado, desde 2007, como Monumento Natural (numa altura em que o agora presidiário era primeiro-ministro).

Figura 1: Localização do Cabo Mondego, em relação à Figueira da Foz e à serra da Boa Viagem.

A área correspondente ao epíteto de Monumento Natural, inclui zonas emersas e submersas com uma extensão total de 117,68 ha (68 ha em área emersa e 49,68 ha em área submersa), de forma mais ou menos paralela à linha de costa.

Figura 2: Localização e delimitação da área do Monumento Natural

A Serra da Boa Viagem tem uma estrutura monoclinal com desenvolvimento este-oeste, com uma inclinação para sul entre 25 e 30º. O Cabo Mondego faz parte da Bacia Lusitânica (ou Lusitaniana), e Inclui uma série sedimentar de idades meso-cenozóicas, nomeadamente caracterizada pela alternância de calcários, calcários margosos e margas de idade jurássica. Ocorrem outras rochas sedimentares de idades mais recentes, que variam desde calcários, a arenitos e mesmo às areias de praia, de forma geral. Durante o Jurássico os processos associados à abertura do oceano Atlântico fizeram sentir a sua presença, nomeadamente nos aspectos geológicos que se podem observar.

Esta zona de elevado interesse geológico tem por base importantes domínios na paleontologia de amonites, na sedimentologia e na paleoicnologia de dinossauros, na paeleoecologia de ambientes de transição, e, principalmente, na estratigrafia. Assim, pode-se dizer que os registos paleontológicos de peixes, juntamente com os icnofósseis de dinossauros e amonites (estes com maior importância), representam, em grande parte, o período do Jurássico que se terá vivido em Portugal. Este período encontra-se representado por uma série contínua de sedimentos marinhos e flúvio-lacustres, maioritariamente carbonatados, desde o Aaleniano ao Titoniano (174-145 Ma, aproximadamente).

Figura 3: Período do Jurássico, que ocorre no Cabo Mondego.

A grande presença e qualidade de fósseis de amonites, permitiu determinar a ocorrência de ambientes marinhos durante o Jurássico médio e datar com precisão as idades dos materiais, neste momento, aflorantes. Este registo fóssil, assume importância tal, que em 1994, o perfil da passagem dos andares Aaleniano-Bajociano (174-168 Ma), foi proposto como estratotipo do Bajociano, sendo considerado, como o melhor afloramento a nível mundial, para o estabelecimento do GSSP (Global Boundary Stratotype and Point - Camada sedimentar que pelas suas características é considerada a nível internacional como a mais representativa de um determinado intervalo de tempo geológico) do referido andar, constituindo um padrão a nível internacional, de referência, delimitando uma parte específica do tempo geológico, o que se verificou pela primeira vez em Portugal .

 Figura 4: GSSP do Bajociano (tracejado: limite inferior do estratotipo).

A continuidade e qualidade dos registos geológicos (correspondendo a um intervalo de cerca de 50 Ma) e a geografia da zona – que permite muito boas condições de observação e estudo – dão ao Cabo Mondego um enorme valor científico, mas também pedagógico e didáctico. 

E claro, uma bonita paisagem para se visitar!


Fontes: 
O Monumento Natural do Cabo Mondego: proposta para uma estratégia de geoconservação e de um plano de ordenamento (2010) - Rocha, J.
Os locais de interesse geológico do Cabo Mondego. Proposta de recuperação das pedreiras tendo em atenção os riscos geomorfológicos identificados (2008) - Rocha, J.
http://www.icnf.pt/portal/ap/nac/mncab-mond
http://www.stratigraphy.org/ICSchart/ChronostratChart2013-01Portuguese_PT.pdf

Experiência 1 - Pegadas de dinossauro, como se formaram?

domingo, janeiro 25, 2015

Domingo é dia de experiência no Jardim Geológico! Na verdade, a cada dois domingos, senão acabam-se-me as experiências depressa e depois não tenho mais. Num domingo dou a experiência, no próximo a ideia por trás dela, e assim sucessivamente.

SPOILER ALERT: Esta experiência antecede um conjunto de textos nos quais os dinossauros terão um papel relevante, pelo que se enquadra nesta temática (aleatória) inicial.


Como é que as pegadas de dinossauro ficaram fossilizadas?

Material necessário (atenção: isto não é a receita para um bolo):

1 copo com borras de café (húmido)
½ copo de café frio
1 copo de farinha
½ copo de sal
Papel de parafina (uma espécie de papel vegetal, mas anti-aderente)
Bacia (uma de plástico, não a de outra pessoa)
Colher de pau
Rolo da massa

Procedimento:
  1. Pega na bacia de plástico.
  2. Coloca a borra de café, o café frio, a farinha e o sal na bacia e mexe-os com a colher de pau. Podes usar as mãos para te certificares que a pasta a obter se encontra bem misturada - o resultado deverá assemelhar-se a lama.
  3. Numa folha de papel de parafina coloca uma quantidade razoável da mistura acima descrita e usa o rolo da massa para deixar a "massa" com 1cm de espessura (tal como se faz nos bolos!).
  4. Usa uma parte do corpo (conselho pessoal: mão) e pressiona a massa, distendendo-a. Em contrapartida, podes utilizar qualquer objecto (que não corra o risco de ficar danificado de algum modo!).
  5. Depois de teres deixado a tua marca, deixa a mistura secar, a temperatura ambiente, nos próximos dias. E pronto, tens a tua própria "pegada" moldada para o futuro!

Resultado:

A mão (ou qualquer outro objecto) vai deixar uma impressão na mistura, que se vai manter enquanto a mistura seca.

Porquê? Esta é a pergunta que vai ser respondida na próxima semana!

Por isso... Não percam o próximo episódio, porque eu também não! (o que é normal, dado que sou eu que o vou escrever)



Experiência adaptada da página http://www.education.com/science-fair/geology/

Apresentação

quinta-feira, janeiro 22, 2015

Serve o presente texto para uma breve apresentação do autor (eu) e dos objectivos deste cantinho pela internet (agora) perdido. O meu nome é Luís Lopes, mas podem-me tratar por "Geo Dude" (não, não é o pokémon). Tenho 25 anos e considero-me um jovem (a geologia riu-se) cheio de ideias e gostos. Acabei os meus estudos na área das Ciências da Terra e sem nada para fazer, decidi começar este projecto, o meu Jardim Geológico, cheio de rochas, minerais, dobras e falhas (e destas eu tenho muitas), que espero, sirva para alguém aprender umas coisinhas sobre geologia.

O que vos proponho eu? Um conjunto de textos divertidos e informativos, imagens do que é a geologia, algumas experiências (umas pessoais, outras no sentido científico da palavra), coisas da nossa Terra e para todas as idades, dos mais velhos aos mais novos, do Arcaico ao Quaternário.

Embarquem comigo nesta aventura pela geologia! It's going to rock!

PS: Não me responsabilizo se alguém começar a adorar geologia.